A ocultação de Betelgeuse em dezembro de 2023
A estrela Betelgeuse (alfa Orionis) tem sido objeto de discussão ultimamente, devido à sua queda incomum de brilho no início de 2020 e as especulações sobre se poderia se tornar um dia uma supernova.
No final deste ano, essa estrela entrará na berlinda novamente pois será ocultada pelo asteroide 319 Leona - na noite do dia 11 para 12 de dezembro - evento considerado raríssimo e de grande oportunidade para um projeto de 'citizens science', que poderá envolver milhares de pessoas em diversos países.
A trajetória da sombra do asteroide não passará pelo Brasil, infelizmente.
A trajetória da sombra começa na China, em uma região remota e despovoada. Avança pelo Tajiquistão, Uzbequistão e Turcomenistão. Entra pelo Mar Cáspio, atravessa o Azerbaijão, Armênia e cruza a capital da Turquia (Ankara). Avança para Grécia, Albânia e passa pelo sul da Itália. Continua pelo Mediterrâneo e passa pelo sul da Espanha e Portugal. Entra no Atlântico e chega à Miami, cruza o golfo do México e termina no território mexicano.
A última ocultação de estrela de primeira magnitude em grande centro urbano, se tornou uma frustração devido ao mau tempo. Em 20 de março de 2014, o asteroide 163 Erigone ocultou Regulus (alfa Leonis) , evento esse que seria visto em Nova Iorque, na região de Long Island. O tempo fechou e ninguém viu nada.
Outras ocultações de estrelas de primeira magnitude ocorreram, mas não tão favoráveis a grandes centros urbanos.
Este será um evento em escala mundial pois a trajetória dessa ocultação atravessará continentes e cidades populosas da América do Norte, Europa e Ásia.
Com a facilidade hoje em dia do uso de smarthphones equipados com câmeras de vídeo cada vez mais eficientes podemos imaginar a quantidade de registros que poderão ser feitos, bastando apenas que os usuários recebam orientações adequadas sobre a melhor forma de usarem seus aparelhos.
Poderemos ter centenas, ou mesmo milhares de cordas do asteroide e também informações valiosas sobre Betelgeuse e sua natureza.
Já se especulou no passado sobre a possibilidade de alfa Orionis possuir uma companheira cerrada. Caso estivesse situada na zona zodiacal, uma ocultação lunar poderia esclarecer a dúvida.
Posteriormente, os astrônomos consideraram remota a possibilidade de uma duplicidade de Betelgeuse.
Seria essa a oportunidade de dirimir alguma dúvida sobre a natureza individual de Betelgeuse?
Outra especulação que tem sido feita é a possibilidade que ocorra, em algum ponto de observação, um eclipse anular, uma vez que o diâmetro aparente de Leona (46mas) é muito próximo de alfa Orionis (48,1mas).
Nesse caso Betelgeuse não desapareceria por completo, dependendo da posição do observador na transversal da trajetória, tendo 93% de seu disco ocultado. Será um evento único!
Simulação da ocultação de Betelgeuse. Crédito: Jiri Kubanek - Iota Europa
Seria a primeira vez na curta história das observações de ocultações asteroidais que tal configuração seria registrada.
A duração máxima da ocultação será de 11,6 segundos na faixa central da trajetória.
Leona é um asteroide do cinturão principal (MBA) e possui um diâmetro incerto entre 50 e 85 km, tendo sido descoberto em 8 de Outubro de 1891 por Auguste Charlois. É considerado um 'slow rotator', devido ao seu lento período de rotação, cerca de 430 horas.
Aqui nesse link podemos ver um debate preliminar com membros da Iota sobre a ocultação de Betelgeuse ( a partir de 2:51 minutos)
https://www.youtube.com/watch?v=SM72sueeLU4
Fontes de consulta
Página da Iota/Japão (http://www.hal-astro-lab.com/asteroid/231212Betelgeuse.html)
The partial asteroidal occultation of Betelgeuse on Jan 2, 2012 (https://ui.adsabs.harvard.edu/abs/2020Gerb...13...25S/abstract)
Página da Iota/Espanha (https://iota-es.de/esop41/pdfs/ESOP41_Jiri_Kubanek_1.pdf)
Página de Steve Preston - (http://www.poyntsource.com/New/Future.htm)
Artigo recente em alemão sobre a ocultação: https://sternfreunde.de/2023/07/20/einmal-im-leben-beteigeuze-wird-bedeckt/
